João de Deus usava a fé para cometer abusos sexuais, diz delegado

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Marcelo Camargo/Agência Brasil

João de Deus

 

 

 

O delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, disse neste domingo (16) que o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, usava a fé para cometer abusos sexuais. Dessa forma, uma das possibilidades é que o líder religioso seja enquadrado, entre outros, no crime de violência sexual mediante fraude. Após mais de quatro horas de depoimento, o médium não admitiu os crimes.
“Ele respondeu a todas as indagações feitas pela Polícia Civil. Foi um interrogatório de sete páginas, bem detalhado e agora as investigações continuam. Ele apresenta a versão dele sobre os fatos e ao final cabe a nós a tipificação, o relatório e o envio desse material para o Judiciário. Ao Judiciário caberá a última palavra. Com certeza, ele não admite (os crimes). Apresenta a versão dele sobre o ocorrido. Ele utilizava a fé, (há) vários argumentos para poder enquadrá-lo nesse tipo (violência sexual mediante fraude)”, disse Fernandes.
Após ser ouvido na Delegacia Estadual de Investigação Criminal (DEIC), João de Deus passou pelo Instituto Médico Legal de Goiânia e foi encaminhado para o Complexo Penitenciário de Aparecida de Goiânia, a 20 quilômetros da capital, para passar pelo menos a primeira noite de sua prisão preventiva. O local é destinado a presos vulneráveis, como idosos e de saúde mais frágil, e aqueles que correm algum tipo de risco.
As celas da unidade possuem chuveiro com água fria e camas de alvenaria com colchonetes. Diariamente, os internos têm direito a uma hora de banho de sol e a quatro refeições: café da manhã, almoço, lanche e jantar.
O delegado disse ainda que o médium estava em “perfeito juízo” durante os questionamentos e não teve nenhum problema de saúde. Fernandes espera que com a prisão preventiva do homem mais vítimas apareçam.
Entrega foi negociada
João de Deus se entregou à polícia na tarde de domingo, depois de dias de negociações. Ele estava na zona rural, perto de Abadiânia (GO), local onde mantém a Casa de Dom Inácio de Loyola, onde teriam ocorrido os supostos abusos sexuais dos quais ele é acusado.
O encontro dele com as autoridades ocorreu na encruzilhada de uma estrada de terra no município, às margens da BR 060. A negociação foi feita entre o advogado de João de Deus, Alberto Toron, e a Polícia Civil.
Após o depoimento, o advogado do médium, Alberto Toron, declarou que as denúncias precisam passar por um escrutínio calmo e que algumas das mulheres não têm credibilidade para acusar João de Deus.
Ele se referiu à holandesa Zehira Lieneke. “Essa holandesa, estou recebendo informações, com um dossiê, de que tem um passado nada recomendável, o que pode descredibilizar sua palavra. Era uma prostituta e tinha um passado de extorsão.”
Toron disse que terá de ser analisado com serenidade se as pessoas querem se aproveitar da situação para pedir dinheiro ao médium. “O fato de ter sido prostituta, por si só, não a descredibiliza, mas é preciso ver o contexto da vida dessa mulher para ver se ela tem crédito ou não. Isso não fizemos ainda”, acrescentou.
Questionado se seria jogo sujo desqualificar as vítimas, ele respondeu que “acusar falsamente alguém de crime grave” é que seria. “Ele [João de Deus] respondeu a todas as perguntas. De algumas mulheres, ele nem se lembrava”, disse, explicando que alguns atendimentos citados nas denúncias ocorreram há mais de dez anos.
Sobre a filha do médium, que o acusou de violentá-la, o advogado afirmou que ela já fez mais de um vídeo retirando as próprias acusações. “Fica difícil dizer o que acontece com ela. Tem histórico de internações.” (Com informações da Folha de S.Paulo e do Estado de S.Paulo).