‘Sei dos equívocos do Novo Ensino Médio’, diz ministro da Educação após ser interrompido por estudantes em evento em MT

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Por Thiago Andrade e Rogério Júnior, TV Centro América e g1 MT
Estudantes protestam e interrompem evento — Foto: Thiago Andrade/TVCA

O ministro da Educação, Camilo Santana (PT-CE), afirmou, nesta quinta-feira (25), que “houve equívocos” na elaboração do Novo Ensino Médio e que, por isso, o Ministério da Educação (MEC) passou a ouvir professores, estudantes e estados. A fala ocorreu após estudantes interromperem evento que o ministro participava, em Cuiabá, e protestarem contra a reforma no ensino médio.

A visita do ministro ao estado cumpre com objetivo de assinar a retomada das obras em escolas da educação básica no interior do estado.

O governador do estado, Mauro Mendes (União Brasil), estava prestes a falar quando dois estudantes, que estavam credenciados para participar da cerimônia, levantaram cartazes e interromperam a solenidade com gritos de “revoga já!”.

Em seguida, o ministro Santana se levantou e disse que “houve equívocos no Novo Ensino Médio”, e que o Ministério da Educação (MEC) “está ouvindo os estudantes, professores e, sobretudo, os estados”

“Eu sei dos equívocos do Novo Ensino Médio. Eu fui governador e sei da falta de diálogo que teve nessa implantação desse processo. Desde de 8 de março, nós abrimos uma consulta pública para ouvir instituições, entidades e recriei o Fórum Nacional de Educação”, afirmou.

Segundo o ministro, o Novo Ensino Médio foi aprovado em 2017, durante a gestão do então presidente Michel Temer (MDB).

“Já estava em implantação desde o ano passado e, num país democrático, temos que fazer é abrir o diálogo. É o que tenho feito e abri uma portaria para ouvir estudantes, pra ouvir professores e pra ouvir os estados. Porque são os estados que implementam o ensino médio, não é o MEC. E quem revoga não é o MEC, é o Congresso Nacional, conforme a lei. Então, o que a gente precisa fazer é dialogar, é construir consensos”, disse.

Evento para a retomada de obras

A cerimônia também contou com a presença de prefeitos e autoridades. O pacto nacional firmado entre o estado e o MEC, prevê investimentos de R$4 bilhões, para finalizar 3,5 mil obras que estão paradas.

O ministro seguiu para Rondonópolis, a 218 km da capital, para inaugurar o Centro Municipal de Educação Infantil “Carlos Alberto de Carvalho” e o Centro de Saúde da Universidade Federal de Rondonópolis, previsto para às 17h30.

Ministro da Educação Camilo Santana em conversa com governador de MT Mauro Mendes — Foto: Thiago Andrade/TV Centro América
Ministro da Educação Camilo Santana em conversa com governador de MT Mauro Mendes — Foto: Thiago Andrade/TV Centro América
O que é o Novo Ensino Médio?

É um novo modelo obrigatório a ser seguido no ensino médio por todas as escolas do país, públicas e privadas.

A lei estipula aumento progressivo da carga horária. Antes, no modelo anterior, eram, no mínimo, 800 horas-aula por ano (total de 2.400 no ensino médio inteiro). No novo modelo, a carga deve chegar a 3.000 horas ao final dos três anos.

Desde 2022, as disciplinas tradicionais passaram a ser agrupadas em áreas do conhecimento (linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas).

Impacto aos estudantes

O Novo Ensino Médio foi instituído por meio de uma lei federal específica; os principais eixos da reforma só podem ser mudados com uma nova legislação aprovada pelo Congresso.

  • O que está em discussão neste momento no MEC é suspensão do cronograma da reforma, e não a reforma em si, que já está em seu segundo ano de implementação.
  • Ou seja, no dia a dia das escolas, nada mudaria: os alunos permaneceriam com a nova grade horária, nova divisão de disciplinas e a possibilidade de receberem formação técnica-profissional.
  • O tal cronograma – provisoriamente suspenso pelo MEC – estabelece prazos para mudanças em avaliações, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Se esse calendário se mantiver suspenso mesmo após conclusão das discussões sobre o tema, as provas não seriam mais modificadas em 2024, como previsto inicialmente.
  • Segundo os críticos, os principais afetados seriam os alunos da rede pública: especialistas apontam que as redes estaduais passaram a oferecer disciplinas alternativas e dar menos peso às tradicionais, enquanto as privadas têm mais estrutura para ofertar os dois tipos de conteúdo.