Assembleia ocorreu na última segunda (23); a comunidade escolheu, por aclamação, não aderir ao novo formato de ensino; Seduc-MT informou que a audiência não cumpriu os requisitos previstos em lei, o que implicou na anulação.
Por g1 MT
A Secretaria de Estado de Educação (Seduc-MT) decidiu anular a audiência pública que debateu a militarização da escola Escola Estadual Professora Adalgisa de Barros, em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, na última segunda-feira (23). Na ocasião, a comunidade escolheu, não aderir ao novo formato de ensino. A decisão foi divulgada nessa quarta-feira (25), por meio da Portaria nº 070/2023.
Segundo a Seduc, “a reunião deveria discutir, de forma democrática, a transformação da unidade educacional no modelo de gestão de Escolas Estaduais Militares, o que não ocorreu, em razão de tumulto generalizado provocado por um grupo de pessoas.”
Ainda de acordo com a secretaria, pessoas que não faziam parte do do processo foram ofensivas, agrediram verbalmente os profissionais da Seduc e da Segurança Pública, além de “incitarem os estudantes a praticar atos violentos, o que não corresponde com a atitude de um ato solene administrativo”.
A secretaria informou também que fica a critério da Diretoria Regional de Educação do Polo Várzea Grande, sob orientação da Secretaria Adjunta de Gestão Regional e Coordenadoria de Escolas Militares, organizar a realização de nova audiência pública ou outro processo análogo para a manifestação dos pais e estudantes.
Confusão
Um vídeo gravado durante a assembleia geral, e que circula nas redes sociais, mostra o momento em que, um policial explica como funciona a mudança no sistema de ensino, quando uma professora, Leliane Cristina Borges, o confronta, parando em frente a ele com os braços abertos.
Ao g1, Leliane explicou o motivo de ter confrontado o agente. De acordo com a professora, ela se posicionou à frente do policial que discursava na escola para protestar contra o fato de que os estudantes, que têm 16 anos, não poderiam votar para escolher sobre a militarização ou não da escola. Decisão que, para ela, não fazia sentido, já que eles podem votar nas eleições, por exemplo.
Ofensa
Devido a repercussão desse vídeo, um comandante do 9° Batalhão da Polícia Militar de Mato Grosso, Wanderson da Silva Sá, fez uma postagem nas redes sociais com xingamentos contra a professora Leliane Cristina Borges.
O g1 entrou em contato com o comandante e com a corporação, que informaram que não irão se manifestar sobre o caso. Já a professora informou que viu a situação como machismo e racismo e irá registrar boletim de ocorrência contra o comandante.
Wanderson, que não aparece na gravação – postou o vídeo do momento em uma rede social pessoal e na legenda escreveu:
“Pra falar a verdade, passei todo dia vendo essas imagens e cheguei à seguinte conclusão: Ela quis prevalecer da sua condição de ser… feia pra c*, e o oficial não deu moral a ela”
Em outra parte do post, também escreveu: “Acho que o pai dela deveria ser trilhonário para pagar o dote dela”. Em seguida, parabeniza o policial que aparece no vídeo e diz que ele o representa.
A professora é vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público (Sintep) e integra o Conselho da Diversidade de Várzea Grande e o Conselho da Mulher de Mato Grosso e contou ao g1 que vê a postagem do policial machista e racista, já que o comentário dele não diz respeito ao contexto da situação vivida na audiência pública, mas, sim, à aparência dela.
“As minhas características físicas não eram o foco do debate. Ninguém estava discutindo se eu era feia. Ele usou de racismo por me olhar e dizer que sou feia, pois, na cabeça dele, existe um padrão de beleza e eu não estava nele”, disse.